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Devocional

Por que existem montanhas?

Diretor administrativo da BYU Broadcasting

1 de outubro de 2019

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Ao olharem periodicamente para a Montanha do Y, por favor, perguntem-se: “Por que existem montanhas?” Minha oração é que vocês se lembrem de que elas não existem para nos confundir, mas, sim, para nos abençoar.


Pretendemos modificar a tradução se for necessário. Para dar sugestões, envie um e-mail para: speeches.por@byu.edu

Bom dia, queridos alunos, professores e colegas da BYU. Uma saudação especial também para o público de televisão e rádio em todo o país assistindo pela BYUtv e pela BYUradio. Em nome de toda a nossa equipe por trás das câmeras e dos microfones da BYU Broadcasting, gostaria de dizer, em primeiro lugar, o quanto nos agrada transmitir esses devocionais inspiradores para vocês todas as semanas. Também gostaria de dizer com a mesma certeza — e em nome de um membro da nossa equipe que está justificadamente apavorado hoje — que é muito mais agradável estar por trás dessas câmeras e microfones do que na frente deles.

Eu sei que vocês vieram aqui neste belo dia de outubro esperando um devocional. Em vez disso, quero convidá-los a fazer uma caminhada comigo — bem, na verdade, será uma escalada. E se as alturas os incomodam, não se preocupem. Como alguém que tem medo de altura, prometo que seremos cautelosos. Vocês devem saber que eu concordo plenamente com os sentimentos de Mark Twain, que certa vez comentou:

Provavelmente não há prazer igual ao prazer de escalar uma montanha perigosa, mas é um prazer que se limita exclusivamente às pessoas que conseguem encontrar prazer em fazê-lo.1

Bem, a despeito de meu medo, meu objetivo hoje é convencê-los de que, por mais rochoso que seja o caminho à frente ou por mais distante que pareça o cume, seus esforços valem a pena. Quero simplesmente incentivá-los a seguirem em frente e para cima em sua jornada, pois prometo-lhes que, onde quer que estejam no caminho, o que os aguarda é, nas palavras de Joseph Smith, uma vista que é “indescritivelmente gloriosa” (JS—H 1:32).

Uma lição da Montanha do Y

Por falar em vistas incríveis, a leste de nós, no sopé da Cordilheira Wasatch, há uma montanha impressionante conhecida como Y Mountain, ou Montanha do Y. Chama-se Montanha do Y por causa do Y de 115 metros de altura por 40 metros de largura que está pintado nela. Essa gigantesca letra anuncia ao mundo que, em sua base, está localizado o campus da Universidade Brigham Young.

Parece-me que foi uma boa ideia eles optarem por construir apenas uma letra na Montanha do Y. No entanto, pintar apenas uma letra na montanha não era o plano original. Em abril de 1906, o objetivo era colocar a letra B, a letra Y e a letra U na montanha. Porém, depois de um grupo de alunos do Ensino Médio e da universidade trabalharem incessantemente por seis horas, passando balde após balde de tinta branca montanha acima, eles só conseguiram completar a letra Y. Por causa de uma sábia reconsideração, foi decidido que só uma letra seria suficiente.2

Bem, com sua permissão hoje — mas sem a do Presidente Worthen ou do Serviço Florestal dos Estados Unidos — decidi não apenas reformar a única letra na Montanha do Y, mas também renomear a montanha, porque acredito que há um argumento para mudar o nome para que transmita uma mensagem um pouco mais retórica e profunda: “Por que existem montanhas?” [Nota do tradutor: Em inglês, a letra Y tem o mesmo som que a palavra: “why” (por que) pronunciada “uai”.] [Foi exibida uma foto modificada da Montanha do Y com a frase “Por que existem montanhas?” escrita em gigantescas letras no lugar do Y.]

Embora tenham sido necessárias centenas de milhares de baldes de pixels brancos para realizar esse ato audacioso, tomei essa liberdade na esperança de que, toda vez que vocês caminharem ou até olharem para a Montanha do Y — ou na próxima vez que enfrentarem um desafio montanhoso — vocês simplesmente reflitam sobre essa pergunta abençoada: “Por que existem montanhas?”

Por que temos montanhas? E por que somos tão compelidos a escalar e subí-las até ao cume? Será simplesmente “porque [elas estão] lá”, como sugeriu concisamente e vigorosamente o alpinista George Leigh Mallory?3 Ou há propósitos mais grandiosos, mais elevados e até divinos nesses pináculos?

Desde o princípio, uma das razões pelas quais não apenas admiramos as montanhas, mas nos sentimos tão compelidos a escalá-las e conquistá-las, é a verdade básica e fundamental de que, como seres que progridem eternamente, temos a predisposição de enfrentar desafios. Esse fato é um dos pilares essenciais do plano de felicidade de Deus. Então, vocês e eu fomos divinamente criados e arquitetados para sermos dinâmicos e não estáticos. Estar em movimento é um requisito para progredir. Assim, ansiamos instintivamente por cumes sagrados — como o templo, a conferência geral ou aquele cume dos cumes, o céu. Portanto, mesmo as jornadas difíceis, íngremes e acidentadas — como a vida, por exemplo — não podem deixar de fomentar e desenvolver nosso progresso, bem como um subproduto inestimável desse esforço: a fé.

Em contrapartida, viagens limitadas a estradas planas ou ligeiramente inclinadas impedem nosso progresso e podem até mesmo fomentar a preguiça. Lembrem-se da forte advertência de Alma sobre a preguiça e a indolência causadas por estradas planas quando disse: “Oh, meu filho, não sejamos negligentes por ser fácil o caminho” (Alma 37:46).

Portanto, considerem as montanhas — e o desafio inerente que elas representam — como algo que faz bem para nossa alma. Aprender a superar e lidar com as coisas que consideramos difíceis nos melhora e nos aprimora. Isso inclui muitos dos cumes da vida, como a formatura, a missão e, sim, relacionamentos emergentes que estão tentando florescer e se tornar eternos. Essa infinidade de etapas essenciais da vida pode facilmente ser interpretada como um caminho difícil. Mas a verdade é que todos os caminhos difíceis acabam se fundindo com caminhos celestiais.

Abraçar os desafios da vida

Então, por que existem montanhas? Bem, as montanhas — como as que nos aguardam nesta grande aventura que chamamos de vida — nos tentam, nos testam, nos apavoram e nos provam. As montanhas nos desafiam, nos derrubam e às vezes podem até nos deixar imobilizados e desesperados. Ao mesmo tempo, elas estimulam nossa alma, nos inspiram e têm uma capacidade transformadora de reacender nossa esperança, fortalecer nossa determinação e aprimorar nossa fé, um passo corajoso de cada vez. Isso exige uma capacidade nunca antes imaginada de nos levarmos a alturas impensáveis, pois é somente ultrapassando nossos limites que descobrimos o quanto somos ilimitados. É somente então — quando nos esforçamos além daquilo que achávamos possível — que descobrimos em nós mesmos a coragem, a força e a fé para continuar a jornada. Como disse o alpinista australiano Greg Child: “Em algum lugar entre o início da escalada e o cume está a resposta para o mistério de por que escalamos”.4

E como se a escalada em si não fosse difícil o suficiente, um desafio comum de qualquer viagem a grandes altitudes é que geralmente há algum tipo de obstáculo inconveniente que inevitavelmente aparece no meio do caminho. Na maioria das vezes, isso acontece em momentos inoportunos e inesperados. E independentemente do tamanho ou da forma, as obstruções imprevistas podem desanimar, desviar e até travar o indivíduo mais forte e determinado.

Esses são os momentos em que alguns podem se perguntar, justificadamente: “Será que isso realmente vale a pena?” ou “Não vejo nenhuma maneira de contornar isso”. A tais pessoas, eu respondo sem hesitação: “Sim, vale a pena. Vale muito a pena. E sim, você vai conseguir — se você se comprometer”. Prosseguir é simplesmente uma questão de aceitar e abraçar a realidade doutrinária de que os obstáculos são uma característica essencial e valiosa do plano de salvação e do caminho da alegria, e que o caminho do convênio não é apenas muitas vezes íngreme, mas também repleto desses obstáculos e contratempos perturbadores do início até o fim.

O Presidente Dallin H. Oaks afirmou que resolver problemas é uma parte inerente do plano:

Todos nós enfrentamos obstáculos. Todos temos desafios. Todos trilhamos caminhos que nos conduzem a alturas que achamos que não podemos subir. Em algum momento, todos nos encontramos ao pé de penhascos que achamos que não podemos escalar.5

Observem que o Presidente Oaks se referiu a “penhascos que achamos que não podemos escalar”. Com frequência, nossa percepção do que achamos que podemos ou não fazer é muito diferente da realidade do que podemos ou não fazer. Acredito que somos mais limitados por nosso desejo do que por nossa capacidade. Há um ditado em inglês que capta perfeitamente o fenômeno que ocorre quando alguém como eu dá muita importância a um obstáculo que, na verdade, é bem pequeno. Esse ditado é: To make a mountain out of a molehill, que significa “Fazer tempestade em copo d’água”, ou, em tradução literal, “Fazer uma montanha de um montinho de terra”.

Sem dúvida, há problemas físicos, emocionais e espirituais muito reais, escuros, crônicos e graves que muitas pessoas infelizmente enfrentam. Não pretendo, nem por um momento, minimizar ou desprezar os inúmeros problemas complexos que muitas pessoas — inclusive alguns de vocês aqui hoje — enfrentam diariamente. Mas o que descobri ao analisar minhas dificuldades pessoais é que a realidade é que a maioria desses problemas realmente são mais como montinhos de terra do que Montes Everest.

O Élder Horacio A. Tenorio, setenta autoridade geral, ofereceu uma perspectiva interessante sobre esses obstáculos e falou sobre as características notáveis que surgem dentro de nós quando encontramos a firmeza e a coragem para superar esses impedimentos. Ele disse:

Problemas constituem uma parte importante de nossa vida. Eles são colocados em nosso caminho para que os superemos, não para que sejamos superados por eles. Devemos dominá-los, não permitir que eles nos dominem. Toda vez que superamos um desafio, crescemos em experiência, em autoconfiança e na fé.6

Subir ao cume do meu Monte Everest

Em um verão, há quase 25 anos, aprendi essa lição em primeira mão quando minha esposa, Linda, que adora aventuras, de alguma forma convenceu a mim — seu marido “medroso” — e a um pequeno grupo de amigos que devíamos nos juntar a ela para fazer algo que ela sonhava em fazer desde pequena. Era chegar ao topo de um pico de 4.199 metros no estado de Wyoming, EUA, conhecido como o Grand Teton. E, embora fosse o maior sonho dela, foi meu maior pesadelo! Meus sentimentos naquela época foram expressos muito bem pelo comediante George Carlin, que disse certa vez: “Não tenho medo de altura. Tenho, contudo, medo de cair das alturas”.7

É verdade que, por mais acidentada e intimidadora que a Cordilheira Teton pareça, ela é realmente um dos panoramas montanhosos mais deslumbrantes do mundo, ideal para um cartão postal — especialmente (achei eu) quando vista com segurança do fundo do vale!

Mas não foram essas montanhas e seus cumes de tirar o fôlego que me apavoravam. Em vez disso, foi o momento (do qual me lembrarei para sempre) em nossa aula preparatória de alpinismo, quando fiquei sabendo pela primeira vez de um obstáculo lendário que iríamos enfrentar na rota para o topo do Grand Teton. Na verdade, era apenas uma simples saliência rochosa, mas desde o momento em que ouvi falar dela, comecei a ficar nervoso.

Brad Wieners, em um artigo que escreveu para a Sports Illustrated sobre escalar o Grand Teton — que, a propósito, não diminuiu muito minha ansiedade com o título “Contagem regressiva para a tragédia” — destacou os principais obstáculos dessa montanha icônica:

O verdadeiro desafio de escalar o Grand Teton não é manobrar na rocha, “é estar exposto” — ou seja, exposto a quedas altíssimas.

(…) Desde que esteja em forma, você pode lidar com o esforço físico de chegar ao cume da montanha, mas você terá que [criar] coragem para enfrentar obstáculos como (…) um grande bloco de rocha em uma borda que exige que ou você passe por cima do bloco, ou o contorne, passando sobre um abismo profundo. É aterrorizante ou emocionante — ou ambos.8

Para mim, não houve discussão — foi aterrorizante! E que grande ironia que, em uma escalada que levaria dois dias e na qual iríamos subir milhares de metros verticais, a parte mais assustadora para mim seria apenas um pequeno “passo” no meio da subida.

Esse passo — oficialmente chamado de Wall Street Step Across [Travessia de Um Passo Wall Street] — não passa de um metro de largura. Faz parte da lendária seção de Wall Street na rota Exum, e marca o início da parte realmente séria da subida do Grand Teton. Você começa subindo por uma saliência muito confortável de 4,5 metros de largura. Mas, à medida que você avança cuidadosamente ao longo dessa rampa (muitas vezes quando está escuro), ela começa a inclinar-se para fora de forma lenta, porém dramática, enquanto se reduz a uma largura de um metro em uma extremidade abrupta da borda.

Depois, há uma fenda na rocha e um abismo, como foi mencionado no artigo da Sports Illustrated. Do outro lado dessa fenda de menos de um metro, há um afloramento de rocha que forma uma esquina que não permite que o alpinista veja o próximo passo. Para continuar, é preciso que ele dê um passo às cegas contornando essa esquina, onde — se nada der errado — o alpinista coloca o pé no outro lado da borda. Vocês ouviram certo — não se pode ver onde deve pisar. E se um passo às cegas não fosse assustador o suficiente, é também necessário atravessar a fenda com nada mais do que 450 metros de ar muito fino e congelante por baixo.

Durante toda a longa caminhada até o acampamento base no dia anterior, fiquei agoniado com esse pequeno problema com que ia me deparar. Naquela noite, foi difícil comer. E minha ansiedade incessante por esse simples passo não me deixou dormir a noite inteira antes da tentativa de chegar ao cume.

Em retrospecto, não é que eu fosse incapaz de dar o passo; foi um movimento muito simples. Para mim — e para qualquer um de vocês — um passo desse tipo em qualquer outra situação não teria sido nada demais. Refletindo sobre isso mais tarde, não é que eu não pudesse fazê-lo — eu simplesmente não tinha coragem de vencer esse medo específico.

Isso é o interessante do medo: Ele pode nos congelar. Pode nos paralisar. Pode nos parar bem onde estamos e nos impedir de seguir em frente. Seu peso esmagador sufoca nossa fé crescente e, sem essa fé, não podemos prosseguir.

O Élder Boyd K. Packer afirmou que a fé é tanto o farol quanto o propulsor que nos mantém em nossa jornada:

Fé para ser fé precisa centralizar-se em algo que não seja conhecido. Fé para ser fé precisa ir além daquilo para o qual existem provas confirmadoras. Fé para ser fé precisa entrar no âmbito do desconhecido. Fé para ser fé precisa caminhar até o limiar da luz e depois dar alguns passos dentro da escuridão.9

Como alunos, vocês podem estar sentindo esse medo sufocante ao enfrentarem o que o falecido apóstolo Élder Robert D. Hales chamou de “a década decisiva”. Resumindo o caminho que está diante de vocês, o Élder Hales observou que, nos próximos dez anos, vocês devem ir até o limiar da luz e até mesmo alguns passos além dela, ao tomarem as decisões mais importantes de sua vida. Essas decisões incluem a escola, a missão, o templo, o namoro, o casamento, a carreira e a pós-graduação e, especialmente, a decisão de formar e firmar seu testemunho do evangelho restaurado de Jesus Cristo.10 Considerados todos de uma vez, o grande tamanho e o número desses presumidos obstáculos podem parecer uma verdadeira avalanche vindo em sua direção. Esses obstáculos podem até fazer com que vocês percam de vista, por um momento, o cume que está além deles. Enfrentá-los todos de uma vez pode ser avassalador e, às vezes, até mesmo debilitante. Alternativamente, as decisões podem ser tomadas uma de cada vez, usando uma combinação de fé, coragem e o simples ato de dar o primeiro passo — e depois, o segundo e o terceiro — até que estejamos caminhando novamente em direção ao cume.

Por mais difíceis que sejam esses primeiros passos, digo-lhes que nada é tão emocionante quanto simplesmente retomar a jornada. É tão libertador que neutraliza o medo dentro de nós, porque nos leva a realmente nos esforçar para criar a coragem para superar qualquer coisa que esteja em nosso horizonte. Essa coragem é o catalisador da fé, e, como vocês sabem, a fé não pode coexistir com o medo. Mas isso exige um esforço total de sua parte.

O Presidente M. Russell Ballard falou sobre o preço a ser pago quando disse:

Vencer os obstáculos com que vamos nos defrontar exigirá toda nossa força, sabedoria e energia. Tudo isso, porém, não será o bastante. Aprenderemos, como os pioneiros antigos, que é unicamente por intermédio da fé — fé verdadeira, que vem do âmago de nossa alma, testada e comprovada — que encontraremos segurança e teremos confiança na caminhada pelos perigosos caminhos da vida.11

Acreditem ou não, de alguma forma encontrei esse tipo de fé naquela manhã de verão há quase 25 anos. À medida que vocês ponderam sobre sua abordagem para o próximo passo crítico que se aproxima em sua vida, permitam-me dizer-lhes como eu o fiz.

Nosso experiente guia, Jack, seria o primeiro a dar aquele passo. E assim como havia feito em nossas aulas preparatórias de alpinismo para iniciantes e intermediários, Jack prometeu que nos guiaria e nos mostraria o caminho. No acampamento base, ele me assegurou que tinha plena confiança em minha capacidade e que não me deixaria fracassar. Bem, enquanto eu estava ali, agachado e tremendo (não só de frio) contra a borda da rocha, fiquei maravilhado quando ele, com habilidade e confiança, atravessou a fenda e contornou a esquina.

Como não ouvi nenhum grito ecoando nas pedras, presumi que ele tinha sobrevivido. Mas então, fiquei apavorado ao perceber que, como o escalador mais fraco de nosso grupo, eu seria o próximo. Logo depois de terminar minha milésima oração naquela manhã, vi-me em um momento crítico nessa escalada quando ouvi o convite arrepiante vindo de nosso guia invisível do outro lado da esquina: “Suba, Michael”.

Essa era a hora. Não havia como voltar atrás e não havia nenhuma outra opção razoável para evitar o obstáculo — embora eu tivesse considerado tudo, inclusive um paraquedas, um helicóptero, ou até uma asa delta! Naquele momento, depois de respirar muito profundo e me acalmar, de alguma forma criei coragem suficiente para tomar uma decisão muito simples. Eis o que decidi: Em vez de ficar pensando repetidamente no desastre que poderia acontecer, eu iria me concentrar no básico e no exemplo do meu guia. Eu iria confiar em todos os fundamentos que me haviam ensinado na aula de alpinismo. Em outras palavras, eu iria me preocupar apenas com as coisas sobre as quais eu tinha controle.

Naquele mesmo momento, visualizei meu objetivo final. Imaginei-me com as mãos erguidas em triunfo, chegando orgulhosamente ao cume do Grand Teton, e, ao fazê-lo, os cenários apocalípticos que eu havia reproduzido tão vividamente em minha cabeça muitíssimas vezes nos dias anteriores, rapidamente ficaram em segundo plano. Inesperadamente, fui tomado por uma sensação reconfortante de calma e segurança. Essa sensação era fé — fé suficiente para dissipar o medo e substituí-lo pela coragem de que eu precisava.

Essa infusão de fé também me permitiu focar-me. Mesmo que minhas pernas estivessem trêmulas, minha fé estava sólida. Avancei até a borda, me foquei fixamente naquela rocha e me senti mais comprometido e seguro de mim mesmo do que nunca. Não olhei para trás e certamente não olhei para baixo. Em vez disso, fiz tudo o que me foi ensinado e que estava sob meu controle, e dei o passo.

Nunca houve um sentimento mais glorioso em todo o meu ser — corpo e alma — do que quando minha bota de escalada pisou naquela bendita pedra sólida do outro lado da esquina. Com um ponto de apoio seguro, pus todo meu peso nesse pé e, com confiança, me puxei para essa nova etapa. Pelo meu grito triunfante de alegria (mas, para falar a verdade, era mais um grito selvagem), vocês talvez pensariam que eu tinha acabado de chegar ao topo do Monte Everest, mas, para mim, naquele pequeno momento de vitória, foi isso mesmo que eu fiz! Eu tinha figurativamente e literalmente atingido um novo patamar. Eufórico e confiante, eu gritei para encorajar os que vinham em seguida — mas tenho certeza que esses alpinistas mais corajosos e habilidosos que me seguiam ficaram chateados com tal incentivo irônico. Repleto de alegria, alívio e júbilo, fiz novamente uma oração curta, porém muito sincera, de agradecimento, e depois ergui os braços para celebrar.

Então, senti outra coisa — dessa vez, algo físico. Mas foi só quando fiz aquele movimento para cima com os braços que percebi que havia mais detalhes importantes a respeito da minha travessia bem-sucedida pelo Wall Street Step Across. No momento em que levantei os braços, senti o puxão da corda, firmemente presa por um nó oito amarrado no mosquetão em minha cadeirinha de escalada. Olhei para Jack, que me fez um sorriso que dizia: “Te disse que você ia conseguir”. Enquanto eu o observava se preparando para dar segurança ao próximo alpinista de nosso grupo, dei-me conta de que a segurança que Jack me dava havia me mantido firme durante todo o movimento. Na verdade, tenho certeza de que ele me segurou com tanta força que eu poderia ter me jogado naquela fenda de Wall Street e ainda assim não ter sofrido um arranhão sequer! Mas ele deixou a corda solta o suficiente para que eu o fizesse sozinho. E embora, em minha ansiedade, eu tivesse me esquecido completamente dessa proteção e não pudesse ver Jack nem sequer senti-lo, ele estava ali para literalmente me salvar da “queda”.

O Senhor promete a vocês proteções semelhantes que são ainda mais sólidas e seguras do que até mesmo a corda de escalada mais forte. Nosso Salvador e Guia Experiente prometeu: 

Lá estarei também, pois irei adiante de vós. Estarei à vossa direita e à vossa esquerda e meu Espírito estará em vosso coração e meus anjos ao vosso redor para vos suster. [D&C 84:88]

Encontrar fé e coragem para mover montanhas

Aquele teste simples me deu coragem para prosseguir e enfrentar outros desafios, entre eles, acreditem ou não, um retorno a Wall Street. Contra meu bom senso — mas com minha confiança recém-descoberta e o incentivo de Linda — tornamos a escalada do Grand Teton uma tradição familiar, um rito de passagem que fizemos com cada um de nossos filhos para comemorar sua formatura no Ensino Médio. (Esse foi um momento em que me senti muito grato por ter apenas três filhos!) E mesmo que a altura ainda me dê calafrio, realmente me tornei mais corajoso e ousado a cada viagem de volta. Minha confiança em mim mesma e em meu Deus cresceu exponencialmente. Diz-se que o lendário alpinista Sir Edmund Hillary expressou isso de outra forma: “Não é a montanha que conquistamos, mas a nós mesmos”.12

O Dr. Seuss, em seu jeito infinitamente sábio e brincalhão, também atestou a capacidade que vocês têm de ser melhores do que sabem, escrevendo:

E quando estiver sozinho, é muito possível
Que você sinta um medo terrível.
Há momentos no caminho, aqui e ali,
Que, assustado, você não vai querer seguir.

(…)

E olhe bem onde pisa.
Lembre que o equilíbrio é o segredo da vida.

(…)

Você vai conseguir?
Claro que vai! Eu jamais duvidaria.
(É, 98,8 por cento de garantia.)
Você vai mover montanhas!

(…)

Hoje o dia é todo seu!
Sua montanha não pode esperar.
Um, dois, três, e… já!13

Sua montanha de fato não pode esperar e está pronta para ser enfrentada. Ao empreenderem essa jornada, vocês encontrarão força interior que não sabiam que tinham, e farão isso combinando o formidável conjunto de coragem e fé com as bênçãos de proteção e capacitação prometidas por Deus. A propósito, isso é ainda melhor do que o que o Dr. Seuss prometeu, porque é 100 por cento garantido — especialmente se vivermos de modo a sermos dignos dessas bênçãos prometidas.

O Presidente Oaks explicou mais sobre como essa fórmula funciona quando disse:

Nada é impossível para aqueles que guardam os mandamentos de Deus e seguem Suas orientações. Mas as bênçãos que nos ajudam a superar os obstáculos não precedem nossos esforços; elas os seguem (…).

O que fazemos quando enfrentamos obstáculos ao cumprirmos responsabilidades justas? Começamos a escalar! As bênçãos que resolvem problemas e nos ajudam a superar os obstáculos vêm para as pessoas que estão em movimento.14

Meus queridos irmãos e irmãs, peço-lhes hoje que façam a si mesmos apenas uma pergunta: Sua vida está em movimento? E se não estiver, por que não? Quer vocês estejam correndo alegremente pelo caminho do convênio ou simplesmente engatinhando por ele, isso realmente não importa. O que importa é estar em movimento.

Ao enfrentarem a estrada árdua e íngreme à frente, lembrem-se de que não estão sozinhos. Todos enfrentamos provações diferentes, porém semelhantes. Como lembrete disso, ao olharem periodicamente para a Montanha do Y, por favor, perguntem-se: “Por que existem montanhas?” Minha oração é que vocês se lembrem de que elas não existem para nos confundir, mas, sim, para nos abençoar.

Que também nos lembremos do exemplo incomparável de nosso guia, Jesus Cristo, que foi à frente e nos mostrou o caminho mais perfeito. Quando chegar a sua vez e Jesus lhes chamar para escalar, oro para que vocês possam ter a coragem e a fé para fazê-lo por conta própria, mas, ao mesmo tempo, com plena confiança na certeza absoluta da segurança celestial que Deus lhes dá.

Por fim, lembrem-se de que é provável que vocês enfrentem montanhas de dúvida, e também é provável que tenham fé suficiente para mover montanhas — às vezes até terão ambas as experiências no mesmo dia! Mas oro para que vocês tenham a perspectiva e a força, ao se depararem com impedimentos, sejam montanhas ou montinhos de terra, para que os vejam como oportunidades enviadas pelo céu, para que os aceitem e aproveitem, buscando os cumes que oferecem vistas “indescritivelmente gloriosas” e para que declarem com coragem e confiança, como Calebe nas escrituras: “[Senhor,] dá-me este monte” (Josué 14:12).

Em nome de Jesus Cristo. Amém.

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  1. Mark Twain (Samuel L. Clemens), A Tramp Abroad(Hartford, Connecticut: American Publishing Company, 1880), 411 (capítulo 36, “Zermatt”).
  2. Ver “Y on the Mountainside: 1906 to the Present”, Brigham Young High School History, byhigh.org/History/Ymountain/Yletter.html; ver também Harvey Fletcher, Autobiography of Harvey Fletcher(Provo: H. Fletcher, c. 1967), 15–16.
  3. Quando lhe perguntaram por que queria escalar o Monte Everest, o alpinista George Leigh Mallory respondeu, “Por que ele está lá” (citado em “Climbing Mount Everest Is Work for Supermen”, New York Times,18 de março de 1923, x11).
  4. Greg Child, de uma entrevista em Jonathan Waterman, “The Natural: Greg Child”, em Jonathan Waterman, ed., Cloud Dancers: Portraits of North American Mountaineers(Golden, Colorado: AAC Press, 1993), 280.
  5. Dallin H. Oaks, “The Message: Reach Out and Climb!” New Era,agosto de 1985.
  6. Horacio A. Tenorio, “Ensinamentos de um Pai Amoroso“, Liahona, maio de 1990.
  7. George Carlin, Napalm and Silly Putty (New York: Hyperion, 2001), 210; grifo no original.
  8. Brad Wieners, “Climbing the Grand Teton”, texto na barra lateral em Wieners, “Countdown to Tragedy”, Sports Illustrated 115, no. 2(18 de julho de 2011): 61.
  9. Boyd K. Packer, “What Is Faith?” em Spencer W. Kimball e outros, Faith(Salt Lake City: Deseret Book, 1983), 42; também Packer, “Faith,” Improvement Era,novembro de 1968, 62.
  10. Ver Robert D. Hales, “Para o Sacerdócio Aarônico: Preparação para a Década Decisiva“, Liahona, maio de 2007.
  11. M. Russell Ballard, “Não Há Nada a Temer na Jornada“, Liahona,julho de 1997; grifo no original.
  12. Frequentemente atribuída a Edmund Hillary, acredita-se que essa frase tenha se originado com o montanhista George Leigh Mallory, que escreveu: ” Será que vencemos um inimigo? Ninguém além de nós mesmos” (“Mont Blanc from the Col du Géant by the Eastern Buttress of Mont Maudit”, Alpine Journal32, no. 218 [setembro de 1918]: 162). Ver Garson O’Toole (pseudônimo de Gregory F. Sullivan), “It Is Not the Mountain We Conquer, But Ourselves”, Quote Investigator, 18 de agosto de 2016, quoteinvestigator.com/2016/08/18/conquer.
  13. Dr. Seuss (Theodore Seuss Geisel), Ah, os lugares aonde você irá! (Companhia das Letrinhas; 1ª edição [27 de junho de 2019]), grifo no original.
  14. Oaks, “Reach Out and Climb!”
Michael A. Dunn

Michael A. Dunn, diretor administrativo da BYU Broadcasting, deu este devocional em 1 de outubro de 2019.