Prosperar espiritualmente
Professor de inglês e diretor fundador do Centro de Humanidades da BYU
11 de dezembro de 2020
Professor de inglês e diretor fundador do Centro de Humanidades da BYU
11 de dezembro de 2020
O que significa prosperar espiritualmente para mim? De modo bem simples, significa buscar, reconhecer e desfrutar de experiências com o Espírito de Deus.
Pretendemos modificar a tradução se for necessário. Para dar sugestões, envie um e-mail para: speeches.por@byu.edu
No ano passado, fui convidado a fazer parte de um grupo de professores e administradores cujo propósito era descobrir o que significa para os alunos prosperarem, e como podemos promover melhor essa prosperidade aqui na BYU.1 Discutimos sobre o engajamento acadêmico, a conexão social, a boa cidadania e outros assuntos importantes. Um dos temas que mais me interessa, e o que fui designado especificamente para eu considerar, foi o que significa prosperar espiritualmente.
A espiritualidade é um de meus tópicos favoritos. Como a maioria das pessoas da BYU, sou membro de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, uma religião que enfatiza a importância de uma vida espiritual forte e enriquecedora. Nos últimos anos, tenho refletido com mais atenção sobre os objetivos de uma educação da BYU, particularmente o objetivo que determina que nossas experiências nesta universidade devem nos “fortalecer espiritualmente”.2 Pergunto a mim mesmo o que isso significa em relação às aulas que ensino, e pergunto a meus alunos o que significa em relação às aulas que eles têm. Grande parte de meu trabalho acadêmico no presente aborda diversos aspectos da vida espiritual na história literária e intelectual, e atualmente ensino uma aula no Departamento de Estudos da Língua Inglesa chamada “Literatura e a experiência espiritual”. Adoro explorar esse assunto com meus alunos; eles são muito inteligentes e perspicazes quanto às coisas espirituais.
Então, faço estas perguntas aos que estão lendo: O que significa prosperar espiritualmente para vocês? E como vocês acham que estão se saindo?
Ao responder a essa primeira pergunta por mim mesmo, lembro-me da observação do Presidente Russell M. Nelson de que “nos dias que estão por vir, não será possível sobreviver espiritualmente sem a orientação, a direção, o consolo e a influência constante do Espírito Santo”.3 Com essa medida, podemos dizer que sobrevivemos e até prosperamos espiritualmente, na medida em que habitualmente buscamos e desfrutamos de experiências espirituais — que convidamos, entesouramos e aprendemos com o Espírito de Deus. Essas são experiências de teor muito único. O poeta inglês William Blake certa vez ponderou se era possível ver o mundo em um grão de areia e discernir, mesmo nas mínimas partículas, o vasto conjunto de forças que fazem das coisas o que são.4 A seu próprio modo, as experiências espirituais são tais partículas milagrosas que nos permitem vislumbrar a vastidão do plano de salvação estabelecido por Deus. Pensem nisso: ter qualquer experiência com o Espírito de Deus é vivenciar pelo menos três realidades — primeiro, que Deus vive; segundo, que nossa vida tem um propósito (um propósito para Deus estender a mão para nós); e terceiro, que a Expiação de Cristo opera em nossa vida, trazendo-nos de volta, pelo menos em parte, à presença de Deus. Sentir o Espírito, mesmo de maneira sutil ou em relação a coisas aparentemente pequenas, é abrir uma janela para a eternidade.
Por esse motivo, as experiências espirituais estão entre os fenômenos mais ricos, profundos, extraordinariamente significativos, capacitadores, iluminativos e vivificantes em nossa vida. Em nossa cultura religiosa, falamos frequentemente sobre como o Espírito testifica da verdade e nos inspira a fazer o que é certo. Além disso, as experiências espirituais nos aproximam do que é sagrado, significativo e íntegro. Como tal, elas promovem a cura, aguçam nossa mente, vivificam nossa percepção, aprofundam nossa empatia e aumentam nosso cuidado com toda a criação. As experiências espirituais nos enchem de esperança e propósito, sabedoria e entendimento; elas motivam e consolam. Com o tempo, seu efeito é transformador, ajudando-nos a nos tornar versões melhores e mais plenamente realizadas de nós mesmos.
Na aula que ensino sobre experiências espirituais e literatura, os alunos e eu nos instruímos mutuamente sobre como reconhecer maneiras pelas quais poemas e romances expressam as coisas espirituais. Isso exige que aprendamos sobre o que a espiritualidade significa tanto em termos acadêmicos quanto nas escrituras. Além de frases religiosas reconhecidas como “ardor no peito” (ver D&C 9:8) e “estupor de pensamento” (D&C 9:9), adquirimos uma nova linguagem sobre, por exemplo, “intensificação neurocognitiva”, “a interligação de pensamento e sentimento” e “preocupação com questões de valor supremo”. Ao expandirmos nosso vocabulário espiritual e acelerarmos nossa percepção do que são impressões espirituais e de como elas funcionam, passamos a compreender mais plenamente a maneira em que o Espírito influencia a vida de outras pessoas e (esperamos) a nossa própria.
Como exercício, peço aos alunos que mantenham um diário no qual anotam suas impressões espirituais — quando e como elas ocorrem e como eles reagem. Uma aluna, Moe Graviet, deu-me permissão para compartilhar uma parte de seu diário. Ela registrou um conjunto de impressões espirituais que havia recebido pouco antes da data de entrega de um grande trabalho em outra aula. Ela estava visitando sua família e acordou de manhã pronta para começar o trabalho, mas teve nítidas impressões espirituais de que deveria fazer as coisas um pouco diferente: que deveria voltar a dormir e descansar um pouco mais, reservar um tempo para orar e ler as escrituras e passar tempo com a família. À medida que o dia avançava, ela começou a se preocupar: Se essas foram as impressões espirituais que ela recebeu, será que o Espírito queria que ela recebesse uma nota ruim em seu grande trabalho? O Senhor estava tentando humilhá-la? Cito aqui o relato dela:
Eu decidia se uma impressão vinha do Espírito se ela trouxesse um sentimento de paz ou levasse na direção da paz. Assim, quando minha irmã quis correr, fui junto com ela. Quando minha mãe precisou de ajuda no porão, eu ajudei — e me perguntei como eu ia terminar meu trabalho. Mas continuava sentindo uma paz extraordinária e contraditória — como se o Senhor estivesse me mostrando como eu poderia viver em um estado de calma em vez de pânico. É claro que, no final do dia, o Senhor abençoou minha mente com ideias e energia para fazer tudo o que eu precisava. Ao refletir sobre essa experiência, comecei a me perguntar se a vida realmente é assim quando se vive sob a influência do Espírito — viver com calma, fazer as coisas certas na hora precisa e cumprir responsabilidades com alegria e paz em vez de estresse. Honestamente comecei a me perguntar se eu tinha feito tudo errado nos últimos quatro anos na universidade e como a minha vida teria sido se eu tivesse vivido intencionalmente todos os dias assim. Perguntei-me se eu poderia ter evitado muito estresse e desespero e por que não confiava o tempo todo.5
Sinto-me inspirado pelo relato de minha aluna. Para expandir sobre suas percepções, e se buscássemos a presença do Espírito um pouco mais intencionalmente? E se treinássemos para estar mais cientes de como o Espírito Se comunica conosco, e se criássemos o hábito de seguir Seus sussurros? E se fôssemos mais conscientes em cultivar a companhia do Espírito Santo mesmo quando não estivéssemos buscando respostas para perguntas urgentes? Será que nos sentiríamos mais conectados a Deus e uns aos outros, e viveríamos um pouco mais como as pessoas que queremos nos tornar?
Parley P. Pratt, um dos primeiros líderes da Igreja restaurada, certamente acreditava que sim. Ele escreveu em 1855:
O dom do Espírito Santo (…) vivifica todas as faculdades intelectuais, aumenta, amplia, expande e purifica todas as paixões e afetos naturais, e os adapta, pelo dom da sabedoria, para seu uso legítimo. Ele inspira, desenvolve, cultiva e amadurece todos os sentimentos, as alegrias, os gostos e as afeições mais nobres de nossa natureza. Inspira a virtude, a benevolência, bondade, ternura, gentileza e caridade. Desenvolve a beleza interior das pessoas, bem como a exterior. Cultiva a saúde, o vigor, a vivacidade e a sociabilidade (…). Em resumo, ele é como se fosse medula para os ossos, regozijo para o coração, luz para os olhos, música para os ouvidos e vida para todo o ser.6
A mensagem aqui é que a influência do Espírito se estende a todas as áreas da vida: física, mental, emocional, social e muito mais. Sua inspiração não se limita a fornecer orientação ou confirmar a verdade, e pode expandir nossa capacidade de aprender e pensar, de criar e desfrutar. O Espírito aprofunda nossa experiência e assim nos ajuda a construir relacionamentos, aumentar nossa consciência da riqueza e da diversidade da vida e discernir mais intensamente a beleza das coisas que de outra forma poderíamos passar por alto.
Então, como podemos ter acesso mais pleno ao Espírito? O método de minha aluna era notar cuidadosamente como o Espírito a impulsionava e depois se comprometer para atender a Seus sussurros. Muitas pessoas, porém, não têm certeza de como devem julgar suas impressões espirituais. Há pouco tempo, uma amiga me contatou para saber se eu achava que ela deveria falar sobre algo que a incomodava. Ela entrou em contato comigo enquanto eu estava escrevendo este discurso, então perguntei se ela havia buscado o Espírito para saber o que fazer. Ela disse que havia tentado, mas que às vezes se sentia confusa porque não sabia se sua inspiração vinha de Deus ou de si mesma. Perguntei-me se minha amiga e Deus não poderiam trabalhar de forma mais unida em vez de trabalharem em oposição, então lhe perguntei sobre seus dons espirituais. Quais são? E será que poderiam servir como canal pelo qual ela receberia inspiração? Ela mencionou três dons: discernimento, amor e perdão. Respondi que talvez esses belos dons a guiassem, não para a pergunta de se ela deveria falar, senão como ela deveria fazê-lo — que talvez abordar a situação que a incomodava com discernimento, amor e perdão permitiria que o Espírito se comunicasse com ela e também por meio dela. Essa pequena sugestão de que ela confiasse em seus próprios dons espirituais pareceu abrir nela um canal de inspiração e aumentar sua confiança espiritual.7
Os dons espirituais são preciosos porque são indícios de nossa natureza divina, aspectos de nós mesmos nos quais espelhamos mais plenamente nossos Pais Celestiais. Lemos nas escrituras que “há diversidade de dons” (1 Coríntios 12:4) e que a cada um de nós “é dado um dom” (D&C 46:11), ou talvez vários dons. Algumas passagens das escrituras listam dons espirituais específicos — conhecimento, fé, sabedoria e mais — mas a lista potencial de dons é praticamente infinita. Já vi como o fato de aproveitarmos esses dons únicos pode nos aproximar de Deus, talvez porque eles despertem partes de nós que já estão mais próximas de Deus.
Há muitos anos, ministrei um curso preparatório para estudantes de Letras que pretendiam cursar um doutorado. Uma aluna excepcionalmente brilhante, inteligente e com diversos talentos, completou os requisitos do curso, mas parecia mais interessada em seguir outras oportunidades. Vários anos depois, ela entrou em contato comigo e perguntou se poderíamos conversar. Convidei-a para minha casa e fiquei sabendo que ela havia se casado e morado em lugares que não havia previsto e que já não sentia muita certeza de que queria seguir seu sonho profissional. Ela havia considerado outras opções, e nada parecia certo, por isso estava reavaliando sua decisão original de não cursar o doutorado. Começamos a conversar novamente sobre alguns dos tópicos que havíamos discutido em nossa aula preparatória anos antes: as partes de uma inscrição para pós-graduação, que tipo de amostra de escrita usar, o que enfatizar em uma carta de intenções e assim por diante. Ela anotou diligentemente algumas coisas. Mas eu pude perceber que ela tinha sentimentos de incerteza e infelicidade. Então, o Espírito me inspirou com um novo pensamento. Eu disse a ela que não se preocupasse com carreiras por um momento, mas que refletisse em seus dons espirituais. Se ela fosse pensar em viver uma vida que mais alinhasse com esses dons, que tipo de vida seria essa? Seu humor mudou instantaneamente; ela disse que não tinha pensado em abordar seu futuro com essa pergunta em mente. Mais tarde na semana, ela me mandou uma mensagem dizendo que tinha levado a pergunta a sério, encontrado uma nova clareza em seu pensamento e agora discernia um caminho de vida e carreira que lhe parecia adequado. A ansiedade havia dado lugar à alegria.
Se aprendermos a permiti-Lo, o Senhor, por meio do Espírito, pode iluminar todas as facetas de nossa vida. Mas buscar o Espírito como nosso guia pode parecer um pouco assustador, pelo menos até nos lembrarmos de que somos co-criadores com Deus — co-criadores de nossa vida e do mundo ao nosso redor. Embora enfrentemos questões de certo ou errado e verdade ou falsidade, e embora seja vital buscarmos a confirmação do Espírito com relação a tais questões, a maior parte da inspiração tem uma natureza menos absoluta. Em vez disso, ela tende a ser mais ampla e aberta: O que comove vocês, ou o que poderia comovê-los? O que podem aprender, e como poderiam fazê-lo? Quais talentos, características e virtudes vocês poderiam cultivar? O que no mundo poderia ser melhor por causa de seu envolvimento? Nessas e em muitas outras áreas, o Espírito é um parceiro criativo que pode nos ajudar a moldar melhores maneiras de viver e ser. Para cada ocasião em que o Espírito nos ajuda a restringir nossas escolhas, há muitas outras em que o Espírito nos auxilia a multiplicá-las. O Espírito oferece orientação, e essa orientação geralmente é libertadora.
E naquelas épocas da vida em que nos sentimos longe de Deus, ou quando nossa vida espiritual é afligida por perguntas e até por crises? Para algumas pessoas — ou melhor, para a maioria de nós, pelo menos de vez em quando — as partes difíceis de nossa vida podem parecer avassaladoras. O que significa prosperar espiritualmente quando nos sentimos sobrecarregados por doenças, luto, crueldade, solidão, discriminação, ansiedade, depressão, abuso, trauma, rejeição, inúmeras outras adversidades? Para aqueles que carregam tais fardos, uma confirmação espiritual por si só pode não parecer um grande alívio. Porém, se continuarmos a buscar a presença do Espírito mesmo em circunstâncias difíceis, e se nos lembrarmos daquilo que discernimos naquele milagroso grão de areia, poderemos descobrir que Deus e o alívio estão mais próximos do que imaginamos.
Em 2009, me ofereceram um emprego para ensinar literatura escocesa em uma universidade na Escócia. Fiquei emocionado com a oportunidade, mas não tinha certeza se queria deixar permanentemente a BYU e mudar com a minha família para o exterior. Então, a BYU generosamente permitiu que eu aceitasse esse cargo em meio período e, por alguns anos, minha esposa, minhas filhas e eu dividimos nosso tempo entre Utah e Aberdeen, uma bela cidade escocesa no Mar do Norte. Mesmo que amássemos a diversidade de nossa experiência e conhecêssemos muitas pessoas queridas na Escócia, sabíamos que não poderíamos sustentar uma existência dividida, por isso começamos a ponderar onde deveríamos nos estabelecer a longo prazo. Analisei minuciosamente nossas opções e também busquei orientação em oração. E durante semanas, que se tornaram meses, não recebi nenhuma resposta. Ou melhor, eu sentia inspiração, mas nenhuma confirmação, nenhuma impressão clara de ficar em Utah ou na Escócia. Em vez disso, senti-me inspirado a esperar e refletir sobre os motivos pelos quais eu escolheria um caminho ou outro, concentrando-me menos no que deveria fazer e mais na pessoa que eu seria ao tomar a decisão. Foi um exercício importante, mas minha incerteza persistia, e eu comecei a ficar ansioso.
Eu estava nessa situação da vida no penúltimo domingo de março de 2012, quando o líder do quórum do sacerdócio de minha ala anunciou que, na semana seguinte, um homem de nosso bairro, membro da Igreja desde criança e agora com uns oitenta anos, ia assistir à Igreja pela primeira vez em mais de cinquenta anos. “Quando o virem”, o líder nos incentivou, “cumprimentem-no; ajudem-no a se sentir bem-vindo”. Achei justo, embora não parecesse que alguém em nosso grupo amigável precisaria de tal incentivo.
Na semana seguinte, no último domingo de março, esse homem, Jerry, se juntou a nós para a reunião do sacerdócio. Gostei dele imediatamente: ele tinha ar de elegância discreta e se levantou e se apresentou com uma voz suave e direta. Quando a reunião terminou, entrei no corredor por alguns minutos. A Escola Dominical, nossa próxima reunião, era realizada na mesma sala. Quando voltei, havia um assento vago ao lado de Jerry, então me sentei e apertei sua mão.
Já esqueci o tópico de nossa aula da Escola Dominical naquele dia. Lembro-me, porém, de que ela se baseou no Livro de Mórmon, e tudo o que Jerry tinha era uma velha Bíblia. Então, enquanto o professor ensinava a aula, abri minhas escrituras para que Jerry pudesse acompanhar.
Quando a aula terminou, todos foram à capela para a reunião sacramental. Mas Jerry permaneceu cabisbaixo em sua cadeira, olhando para o chão. Fiquei lá com ele.
“Está tudo bem?”
Ele piscou algumas vezes, formando um pensamento. O que ele finalmente respondeu foi pesado. “Não entendi quase nada dessa aula. Todos aqui sabem muito sobre o evangelho e eu sei pouquíssimo. Sinto que desperdicei minha vida. Eu nunca deveria ter voltado.”
Suas palavras me atingiram como um soco no estômago. Do nada, me vi em um momento de crise, não da minha própria vida, mas de outra pessoa, e eu não tinha a menor qualificação para lidar com isso. Eu não conhecia esse homem e tinha apenas metade de sua idade; meu objetivo em sentar-me ao lado dele tinha sido simplesmente transmitir o espírito acolhedor da nossa ala. Se ele dissesse que não entendia um determinado princípio do evangelho, eu poderia ter explicado; se ele perguntasse se os membros da ala costumavam se reunir fora da Igreja, eu teria convidado ele para jantar na minha casa. Porém, o que eu não estava preparado para fazer era julgar o significado de sua vida — se ele a tinha desperdiçado ou não.
Mas aquela situação exigia uma resposta considerável e um entendimento desse homem e de suas circunstâncias que eu simplesmente não possuía. Então, fiquei quieto: um segundo, dois segundos, três — orando em silêncio para saber o que dizer. E então, como um raio, um pensamento me veio à mente.
Apontei para sua Bíblia. “Quando chegar em casa hoje, quero que você abra para Mateus 20. Esse capítulo contém uma parábola sobre uns trabalhadores em uma vinha. O Senhor chama alguns trabalhadores cedo, outros mais tarde, outros mais tarde ainda e outros na última hora do dia. Mas para todos os que vão trabalhar, ele paga o mesmo salário. A mensagem é que nunca é tarde demais para respondermos a Deus. A Seus olhos, nunca é tarde demais.”
Jerry se relaxou um pouco. “Gostei disso”.
“Eu também gostei, e sei que é verdade. Então hoje, depois de chegar em casa, leia essa parábola. E a próxima vez que estivermos aqui na Igreja, quero que me diga quais impressões você recebeu ao lê-la”.
“Ok, tudo bem”, prometeu ele. “Posso fazer isso.”
Na semana seguinte, no primeiro domingo de abril, não tivemos reuniões em nossa ala porque tivemos a conferência geral, transmitida mundialmente em toda a Igreja. Um dos discursos daquele fim de semana me tocou mais do que qualquer outro. Foi o do Élder Jeffrey R. Holland e se intitulava “Os trabalhadores da vinha”. O Élder Holland expôs sobre essa parábola de Mateus 20 e depois expressou este belo pensamento:
Não sei quem neste imenso público de hoje pode precisar ouvir a mensagem de perdão inerente a essa parábola. Mas, por mais tardios que se imaginem, por mais chances que achem que perderam, por mais erros que sintam ter cometido ou talentos que achem que não têm, ou por mais longe do lar, da família e de Deus que achem que se afastaram, testifico-lhes que vocês não foram para além do alcance do amor divino. Não lhes é possível afundar tanto a ponto de não ver brilhar a infinita luz da Expiação de Cristo.8
No domingo após a conferência geral, Jerry veio me falar na igreja. “Ei, você ouviu o Élder Holland?”, perguntou ele. “Ele falou sobre a parábola!” Jerry sentia que sua mensagem era destinada especialmente a ele. Ele se tornou um membro vital de nossa ala; era amado pelos membros ativos, era um ministro para aqueles que tinham se afastado e viajou para conhecer vários templos no Oeste dos Estados Unidos. Enquanto isso, nossa família acabou recebendo nossa resposta sobre onde era para nós permanecermos. Continuei na BYU e, cerca de três anos depois, aceitei um chamado na Igreja que incluía a responsabilidade de visitar com frequência as alas de nossa estaca. Uma dessas alas era a do Élder Holland, e às vezes me sentava ao lado dele ao púlpito. Certo dia, quando eu já tinha servido por alguns anos no chamado, contei-lhe a história sobre o impacto que seu discurso havia causado em Jerry. Ele sorriu e usou uma metáfora teatral. “Busca-se inspiração para saber o que dizer”, ele comentou, “mas nem sempre se vê o céu operando por trás das cortinas”.
Ao ponderar sobre essa experiência ao longo dos anos, tenho refletido sobre a ideia de que nem sempre vemos o céu trabalhando nos bastidores. O Élder Holland não o viu na vida de um homem dentre a imensa multidão à qual ele se dirigiu na conferência geral. Jerry não o viu a princípio ao tomar a difícil decisão de voltar à Igreja depois de uma longa ausência. E eu não o vi enquanto contemplava, semana após semana, minha própria grande decisão de vida, quando os céus revelavam pouco em resposta às minhas súplicas para saber se eu deveria ficar na BYU ou me mudar para o exterior.
Afinal, minha experiência em buscar o Espírito foi muito semelhante à experiência de minha aluna que descreveu a brilhante inspiração contraditória do Espírito. Eu estava buscando uma resposta concreta para minha oração, e quando ela finalmente apareceu, não tinha nada a ver com onde eu deveria trabalhar ou onde minha família e eu deveríamos morar. Em vez disso, tratava de algo totalmente diferente — o remorso de um homem bondoso e sincero pelo tempo desperdiçado. Quanto à minha própria pergunta, logo ficou claro para mim por que era necessário esperar por uma resposta: Ainda faltava uma peça do quebra-cabeça que eu não poderia ter previsto, e eu também precisava de tempo para refletir sobre minhas prioridades para que, quando tive que tomar uma decisão difícil, pudesse fazê-lo com mais autoconhecimento. E, como revela a história de Jerry, o Senhor tinha Sua própria forma de garantir que eu compreendesse que Ele ainda estava lá.
Nem sempre podemos ver o céu trabalhando em nosso favor, mas qualquer experiência com o Espírito, por menor que seja, é uma prova de que Deus está fazendo isso mesmo. Esqueçam por um momento receber uma grande resposta para uma oração. Vocês já sentiram o Espírito, mesmo que fosse só um pouco, ao buscar o Senhor em oração? Vocês já sentiram o Espírito lhes testificar que Deus os ama, que Ele os entende, que Ele tem grande esperança por vocês, que Ele se entristece com vocês, que Ele se regozija com vocês ou que Ele aprecia sua gratidão a Ele ou a sua bondade para com outra pessoa? Vocês já sentiram o Espírito abrir sua mente para ajudá-los a aprender algo novo, ou direcioná-los para algo bom, ou inspirá-los a perceber algo belo, ou assegurá-los que tudo vai ficar bem, que vocês não estão perdidos e que Deus sabe exatamente onde vocês estão? Se já tiveram qualquer uma dessas experiências ou inúmeras outras semelhantes, vocês efetivamente vivenciaram o plano de salvação de nosso Pai em um grão de areia. Ou seja, como mencionei anteriormente, foi-lhes mostrado que Deus é real, que sua vida tem um propósito — que há uma razão pela qual Deus estendeu a mão para vocês por meio de Seu Espírito — e que a Expiação de Cristo está possibilitando que vocês sintam a presença de Deus um pouco mais plenamente.
O que significa prosperar espiritualmente para mim? De modo bem simples, significa buscar, reconhecer e desfrutar de experiências com o Espírito de Deus. Significa estarmos conscientes da diversidade de maneiras pelas quais o Espírito nos impulsiona e depois agirmos de acordo com a Sua inspiração, talvez usando nossos dons espirituais únicos e talvez aprendendo a perceber a presença de Deus mesmo quando outras preocupações nos distraem.
Então, como vocês estão se saindo? Vocês diriam que estão prosperando espiritualmente? Minha convicção é que, se vocês estão tendo experiências com o Espírito, mesmo que sejam simples e pequenas, quer dizer que Deus está decidindo habitar com vocês. Portanto, a despeito de quaisquer preocupações e dúvidas que tenham, vocês provavelmente estão se saindo muito bem mesmo. E se vocês se sentem desanimados por causa de todas as experiências espirituais que acham que não têm, então quero lhes dizer o que o Senhor uma vez comunicou a meu amigo Jerry — que aos olhos de Deus, vocês provavelmente estão se saindo muito melhor do que acham. Deus os conhece e os ama, e Ele não Se esqueceu de vocês. Não é possível para vocês “afundarem tanto a ponto de não verem brilhar a infinita luz da Expiação de Cristo”. E nem sempre vemos o céu operando por trás das cortinas. Em nome de Jesus Cristo. Amém.
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Notas
Matthew F. Wickman, professor de inglês e diretor fundador do Centro de Humanidades da BYU, deu este discurso de devocional em 1 de dezembro de 2020.