Lutando contra comparações
Professor adjunto de história e doutrina da Igreja
7 de maio de 2019
Professor adjunto de história e doutrina da Igreja
7 de maio de 2019
Podemos notar o quanto essas comparações são muitas vezes falsas (…). Vale a pena notarmos e considerarmos isso e nos lembrarmos constantemente disso.
Pretendemos modificar a tradução se for necessário. Para dar sugestões, envie um e-mail para: speeches.por@byu.edu
Em nossas aulas de história da Igreja, com frequência falamos sobre a importância — e a bênção — da franqueza e da sinceridade. Então, de acordo com esse espírito de franqueza, eu me sinto compelido a admitir sinceramente que, quando recebi esse convite do vice-presidente Matthew O. Richardson, eu o contemplei por um dia e depois escrevi um e-mail de desculpas perguntando se havia alguma maneira de eu ser dispensado naquele momento.
Algumas coisas me fizeram sentir que eu não queria dar um discurso em um devocional agora. Primeiro, sempre sonhei que minha estreia na BYUtv seria como convidado especial no seriado de comédia Studio C, e eu simplesmente não queria abrir mão desse sonho! Aqueles que me conhecem pessoalmente já sabem que a minha vida inteira seria uma fonte inesgotável de inspiração para um seriado de comédia. Segundo — e isso só influenciou um pouco mais meu processo para tomar a decisão — eu simplesmente não sabia o que diria no devocional. E isso realmente me afetou muito. Eu pensei em todos os devocionais anteriores que foram tão memoráveis. Eu poderia listar agora vários devocionais da BYU que até hoje tocam meu coração. Além disso, racionalizei que as semanas seguintes poderiam ser muito ocupadas para eu colocar o tempo de preparação que isso merecia. Eu me importava demais com os devocionais da BYU para errar! O vice-presidente Richardson respondeu com outro e-mail muito bondoso e compreensivo em que me liberou da obrigação, e não me senti culpado.
Porém, na manhã seguinte um novo pensamento começou a se formar em minha mente. Foi um daqueles momentos de diálogo interior — aqueles momentos que, de alguma forma, podemos sentir que se originam fora de nós mesmos. Assim é como eu expressaria esse novo pensamento: “Você está me falando mesmo que vai deixar passar essa oportunidade de dedicar o tempo para pensar em algo, se debater com algo e aprender algo, só porque sabe que vai exigir esforço e atenção? Por que você deixaria passar essa oportunidade de aprender algo que você precisa aprender, de se esforçar para colocar no papel coisas que atualmente apenas vagueiam em sua mente?” E então me lembrei de uma citação do filósofo britânico Francis Bacon que um antigo professor meu costumava repetir: “O escrever dá [ao homem] precisão.”1 De alguma forma, eu sabia que precisava aprender algo com mais precisão ao me esforçar para escrevê-lo.
Aposto que muitos de vocês, no final de nosso tempo juntos, talvez desejem que a lição que aprendi tenha sido deixar as coisas como estão quando recebemos e-mails bondosos e compreensivos que nos liberam de uma obrigação quando não temos nada para dizer. Porém, já não me encontrava em condição de poder fazer isso. A verdade da situação tinha sido revelada e eu sabia que deveria fazê-lo.
Mas eu ainda não sabia o que ia dizer. Eu não conseguia me livrar do sentimento de quão bons foram os devocionais passados, ou da sensação de me perguntar se poderia estar à altura deles. Esta pode ser a minha única chance, eu pensei — se por acaso, é claro, o negócio da comédia não der certo. O que as pessoas vão pensar? E se a melhor coisa que meus familiares puderem me dizer depois for: “Ei, adorei como o maquiador da BYUtv fez suas sobrancelhas parecerem menores”? Como meu discurso de devocional iria se comparar a todos os outros devocionais da BYU? E, em um momento de inspiração, de repente eu parei. Foi isso mesmo. Então era isso. Eu precisava dedicar um tempo para lutar contra essa tendência perturbadora de se comparar.
Essa tendência de me comparar é algo que pondero toda hora porque eu faço isso toda hora. Mas só dizer isso é um pouco enganoso. Dizer: “Eu faço isso toda hora”, é como dizer: “Eu respiro toda hora”. Simplesmente acontece sem pensar. Sentir quase automático — quase natural. E esse é o ponto. É por isso que é tão perturbador. Aprendemos em Mosias 3 que, quando permanecemos em nosso estado “natural”, temos dificuldade em “[cedermos] ao influxo do Santo Espírito”.2 Não estamos onde Deus quer que estejamos e não somos o que Ele sabe que podemos ser. Estamos em oposição a Ele, contrários a Seu plano. Mas também, como essas comparações parecem acontecer muito naturalmente, espero que todos nos sintamos como companheiros de viagem nesta estrada.
Então, o que o influxo do Santo Espírito nos impeliria a fazer? Onde podemos ceder nisso?
Primeiro, precisamos identificar o problema. Deixem-me delineá-lo revelando como eu imaginava a narrativa das escrituras em Doutrina e Convênios 7, com um pouco de licença poética. Essa seção acrescenta detalhes importantes ao relato em João 21 e conta como João expressou seu sincero desejo de ter “poder sobre a morte, para que [pudesse viver] e [trazer] almas a [Cristo]”3 até que Jesus venha novamente. Aprendemos na seção 7 de Doutrina e Convênios que Pedro, por outro lado, tinha desejado que ele pudesse “ir rapidamente ter [com o Senhor] em [Seu] reino”. 4
Assim é como eu imaginava essa situação. Essa é a imagem mental que tinha dessa história nas escrituras. Pedro se aproxima do Salvador timidamente e pergunta em voz baixa: “Qual foi o desejo sincero de João?” Pedro fica sabendo que João desejou permanecer na Terra até a Segunda Vinda para pregar o evangelho. Consigo ver Pedro com um sorriso forçado, dizendo: “Nossa, que incrível”. Mas em sua mente ele está realmente pensando: “Ahhh! Como fui burro! Por que eu não pedi isso? Por que eu nem sequer pensei nisso? João é muito mais justo do que eu! Sem mencionar que ele corre mais rápido do que eu! Por que eu sempre tenho que ser tão impulsivo e me precipitar em tudo?”
Nessa leitura, pode-se presumir que Doutrina e Convênios 7:5 seria assim: “Digo-te, Pedro, que [teu desejo de ir rapidamente ao meu reino] foi um bom desejo; mas o meu amado [João] desejou fazer mais, ou seja, uma obra ainda maior entre os homens do que aquilo que [tu fizeste, ó preguiçoso]”. Ainda me lembro de onde eu estava, porém, quando me dei conta de que é claro que o versículo não é assim. Aqui está como realmente é: “Digo-te, Pedro, que esse foi um bom desejo; mas o meu amado desejou fazer mais, ou seja, uma obra ainda maior entre os homens do que aquilo que [ele] fez antes”.5
Eu sinto isso com a força da verdade: nosso Deus perfeito e amoroso não faz comparações horizontais. Nesse versículo, Jesus apenas comparou João com o antigo João — João com o João de antes. Ele apenas comparou Pedro com o Pedro de antes — com o Pedro anterior. E Ele apenas me compara com o antigo eu.
Aqui está um exemplo mais contemporâneo do Presidente Boyd K. Packer quando ele era presidente de missão.
Eu precisava de um novo assistente e tinha orado muito sobre o assunto. Depois, eu agendei conferências de zona nas quais conheci e entrevistei todos os missionários, sempre pensando: “É este o élder?” A resposta por fim chegou: “Este é o élder.” Ele foi designado. Ele só tinha sido permitido servir uma missão depois de uma considerável melhoria pessoal para se tornar elegível.
Depois de eu anunciar o novo assistente, um dos líderes de zona veio me ver em particular. Ele era do mesmo bairro que o novo assistente. Ele estava visivelmente perturbado. Sua primeira pergunta foi: “Você realmente conhece o élder que designou como seu assistente?”
“Sim, Élder. Sei tudo o que você sabe sobre ele, e muito mais”, foi minha resposta.
“Por que, então, ele foi designado como seu assistente?”
Ponderei por um momento e depois disse: “Élder, por que você não faz a pergunta que veio fazer?”
“O que você quer dizer?”
“Faça a pergunta que realmente está em sua mente”, eu incentivei.
“Mas eu já fiz”, disse ele.
“Não”, eu respondi. “Há outra pergunta. O que está em sua mente não é ‘Por que ele foi designado como seu assistente’; é ‘Por que eu não fui designado?'”
Agora, por favor, entendam. Eu achei muito lógica e sensata a pergunta que ele não expressou (…). Eu tive simpatia por esse rapaz e o admiro muito por ele ter tido coragem de falar.
“Se você perguntasse por que não foi escolhido”, disse eu, “eu teria que responder: ‘Não sei, Élder’. Só sei que ele foi escolhido. Talvez ele falhe. Mas pelo menos sei que ele é quem possui a combinação de talentos, habilidades e qualidades mais aptos para fazer as tarefas necessárias no escritório atualmente.
“Isso não reflete a sua capacidade. Talvez você futuramente seja seu presidente e de muitos acima dele. Talvez você seja o bispo ou o presidente de estaca dele. Talvez você chegue a presidir a Igreja. Eu não sei. Mas o chamado dele não reflete a capacidade que você tem. Não se magoe por isso.
“Volte a trabalhar e sirva ao Senhor. Apoie-o”, eu aconselhei. “Sua disputa não é com ele, mas com você mesmo.”6
Preciso ler essa frase marcante de novo: “Sua disputa não é com ele, mas com você mesmo.”
Em outras palavras, aqui está o que disse o Élder Jeffrey R. Holland sobre o assunto:
[Deus] não nos julga por nossos talentos ou nossa aparência; Ele não nos julga por nossa profissão nem por nossas posses. Ele torce por todo corredor, alertando-os que a corrida é contra o pecado, não uns contra os outros.7
Essas são declarações de tremenda importância. Essas são declarações que quero que sejam estampadas em minha mente e escritas nas “tábuas de carne do [meu] coração”.8 Simplesmente repetir uma frase como “sua disputa não é com ele, mas com você mesmo” ou “a corrida é contra o pecado, não uns contra os outros” parece um banho frio verbal em nossa alma queimada pelo sol. Ele alivia e esfria, e nossos músculos tensos relaxam.
Nós já sabemos tudo sobre isso, não é? Sentimos essas verdades profundamente. Porém, se sabemos essas verdades e se elas nos fazem sentir tão tranquilizados, então por que se torna tão complicado nos lembrar delas ao deixarmos o refúgio seguro de um devocional da BYU ou os abraços acolhedores de pais, irmãos ou amigos sábios que sempre nos relembram destas verdades?
Por que ainda é tão difícil? E o que devemos fazer?
Se é como respirar, o que devemos fazer?
O que podemos fazer?
Bem, em primeiro caso, podemos ter atenção plena. Um aspecto da atenção plena (e isso sem dúvida vem da minha perspectiva como iniciante) é prestar atenção na respiração — e coisas boas acontecem. Então, primeiro, vamos chamar a atenção para nossa tendência de nos comparar. Estejam cientes dela, pensem sobre ela e ponderem bem sobre ela. E aqui estão algumas coisas que notamos.
A mortalidade e a modernidade parecem ser especialmente bem planejadas para nos dar o “currículo personalizado”9 (uma maravilhosa frase do Élder Neal A. Maxwell) de que precisamos para enfrentar nossa tendência de nos comparar com os outros. E ao nos depararmos com isso, percebemos que nos comparar pode levar a toda espécie de problemas. Por um lado, pode gerar arrogância. Pode gerar orgulho. Pode gerar desdém e desprezo (pensando nas coisas profundas que Arthur C. Brooks disse na cerimônia de formatura há duas semanas10). Pode gerar autossatisfação, complacência e apatia. Por outro lado, pode gerar desespero. Pode gerar angústia. Pode gerar sentimentos de inutilidade e vergonha. Eu diria que é um instrumento muito poderoso para o pecado e a miséria! O capítulo 6 de 3 Néfi apresenta uma situação na qual Satanás teve sucesso em fazer com que aqueles santos se vangloriassem nas comparações e se distinguissem por classes, e como resultado, “a igreja começou a decair”!11
Não é de admirar que Alma tenha dito que pecou em seu desejo de ser um anjo. Eu sempre achei que isso foi um exagero poético feito por Alma. Afinal, quem poderia criticar o desejo de ter a voz de um anjo para “proclamar arrependimento a todos os povos”?12 Mas talvez ele tivesse razão. Talvez ele compreendesse profundamente que as comparações — que podem alimentar a inveja, a cobiça, o ódio de si mesmo e a estagnação da inação — podem realmente ser muito debilitantes mesmo. As comparações podem nos impedir de desempenhar o papel vital que “o Senhor [nos] concedeu”,13 e, por isso, Alma precisava chamar as coisas pelos seus nomes: estava pecando em seu desejo.
Não é a mesma coisa que ouvimos no discurso clássico do Presidente Ezra Taft Benson sobre o orgulho (que sempre vale a pena ler de novo)? O Presidente Benson disse: “O orgulho é essencialmente competitivo por natureza”. 14 Ele também citou C. S. Lewis:
O orgulho não tem prazer em ter algo, mas apenas em ter mais do que o próximo (…). É a comparação que torna uma pessoa orgulhosa: o prazer de sentir-se acima dos outros. Eliminado o elemento da competição, o orgulho desaparece.15
Vamos dar uma pausa agora para uma pitada de realidade. Eu posso imaginar minha própria reação a tudo isso se eu estivesse sentado nesta congregação. Eu consigo me imaginar pensando: “Muito bom, obrigado. Agora, eu me sinto mal não somente por causa de todas essas comparações com todas as pessoas ao meu redor, mas eu me sinto pior ainda por perceber que estou pecando ao fazê-lo. Olha que maravilha. Deveria ter ficado na cama hoje”. Se alguma coisa que eu disse provoca esse sentimento, eu entendo. Mas eu acho que outra maneira de enxergar a situação é ver como ela pode nos empoderar. Podemos seguir a abordagem de Néfi. Podemos dizer: “Desperta, minha alma! Não te deixes abater pelo pecado”,16 e “Por que sucumbiria a tentações, para que o maligno tivesse lugar em meu coração a fim de destruir minha paz e afligir minha alma?”17
Podemos notar o quanto essas comparações são muitas vezes falsas — ou seja, muitas vezes se baseiam em falsidades e em premissas erradas, tanto as de outras pessoas quanto as nossas. Vale a pena notarmos e considerarmos isso e nos lembrarmos constantemente disso.
A conversa entre Corior e Alma por bom motivo recebe muita atenção nas lições e nos discursos da Igreja. Alma 30 é um capítulo rico e multifacetado. Mas eu acho que uma das afirmações de Corior não recebe a atenção que merece por ser tão comprovadamente falsa. Vejam como essa afirmação é relatada em Alma 30:17. Corior afirmou que “cada homem prosperava segundo sua aptidão e cada homem conquistava segundo sua força”.18 Essa afirmação simplesmente não é verdadeira e, se somos honestos com nós mesmos, sabemos que ela não é verdade.
O que eu quero dizer é que ninguém pode dizer legitimamente, com toda honestidade: “Eu prosperei por causa de minha aptidão”, ou “Eu conquistei por causa de minha força”. Sabemos que, na verdade, muitas variáveis estão envolvidas. Onde nascemos, quando nascemos, nossa raça, nosso sexo, o tipo de educação disponível para nós, o nível de instrução de nossos pais, marcadores genéticos como a altura e a massa muscular, o momento de nossa inscrição e o conjunto de candidatos para um concurso ou um emprego — há tantas coisas que estão fora de nosso controle. Todos esses fatores afetam o grau em que até mesmo temos a oportunidade de “prosperar” ou “conquistar”. Houve muitos gênios que não tiveram a mesma oportunidade de prosperar e muitos homens e mulheres fortes que não tiveram a mesma oportunidade de conquistar. Aliás, como realmente se manifesta “prosperar” ou “conquistar?”
Agora, nós temos que ter cuidado. Isso não significa que devamos simplesmente nos resignar ao determinismo biológico ou circunstancial, nem nos entregar ao derrotismo. O arbítrio é uma realidade e uma dádiva incomparável. Mas podemos ver por que as comparações simplesmente não são justas — nem para nós, nem para outras pessoas? Há muitas variáveis envolvidas. É por isso que o grau de dificuldade é importante nos saltos ornamentais — e na vida, como o Élder Maxwell nos lembraria.19
Tudo isso serve para dizer que certamente devemos ser mais compassivos com todos, porque não sabemos quais fardos eles estão carregando ou como a vida os está puxando para baixo. E certamente devemos ser mais humildes quando formos bem-sucedidos. É de se admirar que o rei Benjamim perguntou: “Podeis dizer algo de vós mesmos? Respondo-vos: Não”.20 Eu me pergunto quantas portas foram abertas em minha vida porque fui criado em Hooper, Utah. Eu não posso me atribuir o mérito do privilégio de ser daquela bela cidade às margens do Grande Lago Salgado.
Nós precisamos reconhecer que o privilégio é real. O preconceito é real. A injustiça é real. Lembrem-se de que Corior era um anticristo. A afirmação comprovadamente falsa de que prosperamos segundo nossa aptidão parece ser outra maneira de negar que precisamos de Cristo — ou que precisamos de qualquer pessoa. Pensem na mensagem central de Efésios 2:8–9. Nós precisamos ser lembrados de que é “pela graça” que somos salvos.21 É dom de Deus, para que nenhum de nós “se glorie”!22
Por outro lado, então, podemos confiar que a graça do Senhor basta para, no final, reverter toda a injustiça, compensar toda a perda23 e fazer com que as coisas fracas se tornem fortes.
Quando nos deparamos com nossa fraqueza, Éter 12:27 é uma boa escritura para lermos de novo. Somos lembrados de que o Senhor dá aos homens e às mulheres “a fraqueza a fim de que sejam humildes”.24 Não se diz fraquezas, mas, sim, a fraqueza. A fraqueza. Uma condição universal compartilhada: a mortalidade. A mortalidade nos torna humildes — vez após vez. E eu opino que essa tendência de se comparar faz parte da mortalidade e que é universal — em menores e maiores graus, é claro. Quando esse reconhecimento nos torna humildes, podemos confiar que, por meio da graça abrangente do Senhor, as coisas fracas podem se tornar fortes.
E isso é, no final, a única coisa a que podemos recorrer, “o único nome” pelo qual pode “[vir] a salvação”.25 Eu percebo, vez após vez, que não posso vencer isso sozinho. Eu percebo, vez após vez, que não preciso vencer isso sozinho.
O que o Élder Ronald A. Rasband lembrou aos educadores religiosos há três meses é a mesma mensagem que eu tenho sentido profundamente em meu coração, e me sinto incapaz de transmiti-la com a intensidade que ela merece. O Élder Rasband intitulou seu discurso “Jesus Cristo é a resposta”.26 Essa é a mensagem que todos precisamos ouvir. Neste dilema humano, Jesus é a resposta: Seus ensinamentos, Seu exemplo e Seu poder para efetuar uma mudança de coração — uma mudança duradoura e salvadora — em cada um de nós.
Vamos pensar nos ensinamentos de Jesus Cristo. Quando nos achamos preocupados com como nos comparamos ao olharmos para todos à nossa volta, e quando nos achamos preocupados com o que os outros pensam de nós, pelo menos não estamos sozinhos nisso! Sou muito grato que os escritores das escrituras foram honestos o suficiente (até mesmo, em alguns casos, honestos o suficiente sobre si mesmos!) para incluir relatos que mostram que os apóstolos de Jesus tiveram dificuldades com isso, e até discutiram sobre isso.27 Quando eles Lhe perguntaram: “Quem é o maior no reino dos céus?” (pergunta essa que talvez seja o campeão de todas as perguntas motivadas pela comparação!), lemos que “Jesus [chamou] uma criança (…) e disse (…): Aquele que se humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos céus”.28
E essa escritura já traz à mente outras semelhantes a ela. Nós lembramos que uma das maneiras que o rei Benjamim recomendou para vencermos nosso estado de homem ou mulher natural é nos tornarmos como uma criança.29
Eu tenho quatro filhos maravilhosos — Parley, Marshall, Truman e Ashley — e aprendi muitas lições com eles. Uma imagem tão vívida em minha mente hoje quanto quando aconteceu há 12 anos foi quando eu estava jogando com meus dois filhos mais velhos, Parley e Marshall, com uma bola de futebol americano. Parley tinha cinco ou seis anos de idade; Marshall tinha uns três. Eu jogava a bola para cada um deles alternadamente. Parley quase sempre pegava a bola. Marshall, nem tanto.
Posso ver Marshall se concentrando, olhando para a bola — e nunca conseguindo pegá-la. Não importava como eu jogava a bola, parecia que ela sempre acertava a cabeça de Marshall ao passar direto por suas mãos, que fechavam para pegar a bola muito cedo ou muito tarde. Felizmente, a bola era muito macia e inflável. Porém, o que eu nunca vou esquecer é o seguinte: Marshall aplaudia, pulava e gritava por alegria toda vez que Parley pegava a bola. Eu ainda consigo ouvir a vozinha dele gritando: “Boa pegada, Par!” ou “Foi ótimo, Par!” E então ele perdia a próxima bola que eu lhe jogava. Mas, de alguma forma, isso não diminuía o entusiasmo que Marshall tinha pelo sucesso de Parley. De alguma forma, ele sabia que sua disputa não era com Parley. Ele podia ter alegria no sucesso de Parley. Como podemos recuperar esse sentimento de celebração infantil pela boa sorte das outras pessoas?
Acho que recuperamos esse sentimento pensando menos em nós mesmos. Essa declaração exige muitos esclarecimentos. Todos nós temos que estar atentos às maneiras pelas quais um sincero desejo de altruísmo pode, em algumas situações terríveis, ser manipulado para codependência ou vitimização. Saibam que, se vemos isso acontecendo com outras pessoas à nossa volta ou com nós mesmos, nunca somos chamados a nos abnegar de modo que prejudique nosso bem-estar mental, físico ou emocional. Algumas das melhores coisas que podemos fazer por nós mesmos ou por outras pessoas é acabarmos com esse tipo de abuso. Lembrem-se de que Jesus disse que devemos cortar mãos ou olhos que nos escandalizam, e a Tradução de Joseph Smith deixa claro que esse corte pode incluir os ditos amigos e familiares e aqueles em quem confiamos, que estão nos guiando por caminhos perniciosos.30 Essas são situações que não podem ser ignoradas.
Mas com essa importante ressalva sempre em nossa mente, escutem como o Presidente Dieter F. Uchtdorf ilustrou o que é o tipo certo de altruísmo, no melhor sentido:
Quando vemos o mundo a nosso redor através da lente do puro amor de Cristo, começamos a compreender a humildade.
Alguns acham que humildade significa autodepreciação. Humildade não significa convencer-nos de que somos imprestáveis, indignos e sem valor. Tampouco significa negar ou reter os talentos que Deus nos deu. Não descobrimos a humildade tendo um conceito pior de nós mesmos. Descobrimos a humildade pensando menos em nós mesmos.31
Escutem como C. S. Lewis o descreveu:
Não pense que, se você se encontrar com um homem realmente humilde, ele será o que as pessoas chamam de “humilde” hoje em dia: não será uma (…) pessoa (…) que está sempre lhe dizendo que não é nada. Provavelmente tudo o que você vai pensar a respeito dele é que ele parecia uma pessoa alegre e inteligente que se interessou muito pelo que você disse a ele (…). Ele não estará pensando sobre a humildade; não estará pensando em si mesmo de modo algum.32
Essa descrição não se encaixa perfeitamente com a imagem do Filho de Deus se ajoelhando diante de discípulos cansados e confusos, e lavando seus pés? Não é isso Jesus — enquanto estava na cruz — atribuindo as responsabilidades de um filho a João por causa da preocupação de Jesus com Sua mãe desolada? Isso é Jesus, escolhendo ser hóspede na casa de um publicano sem se preocupar com a forma em que Sua reputação poderia ser prejudicada aos olhos dos murmuradores. Isso é Jesus, imune às críticas das pessoas que, se vivessem no mundo atual, estariam fazendo esses mesmos julgamentos críticos nas seções de comentários das publicações nas mídias sociais. Isso é Jesus, com sinceridade e de todo o coração, desviando o louvor e glorificando Seu Pai. E assim por diante.
Uma breve história da irmã Susan W. Tanner ilustra isso tão lindamente quanto qualquer outra coisa que eu já ouvi. Ela servia como presidente geral da organização das Moças da Igreja quando relatou isso em um discurso da Conferência Geral de outubro de 2005:
Lembro-me muito bem da insegurança que sentia quando era adolescente e tinha muitas espinhas. Eu tentava cuidar devidamente da minha pele. Meus pais me ajudaram a receber atendimento médico. Passei anos sem comer chocolate nem as comidas gordurosas das lanchonetes que os adolescentes costumam frequentar, mas sem nenhum sinal de cura. Foi difícil para mim naquela época, ser plenamente grata por aquele corpo que me causava tanto sofrimento. Mas minha boa mãe ensinou-me uma lei mais elevada. Ela me disse muitas e muitas vezes: “Você tem que fazer tudo o que puder para tornar sua aparência agradável, mas assim que sair pela porta, esqueça-se de você e concentre-se nos outros.”33
É só isso. Em um belo resumo, é isso.
Pensem em todas as perguntas que nos bombardeiam diariamente: fui escolhido para uma posição de liderança na minha missão? Marquei mais pontos que meu rival no jogo de basquete? Tirei a nota mais alta da minha turma na prova? Fui eu o único aluno da BYU que conseguiu um estágio? Toquei de modo mais impecável em minha audição musical do que todos os outros? Meu comentário engraçado na Escola Dominical fez mais pessoas rirem do que o comentário de meu colega de quarto? Se eu olhar para a esteira ao lado da minha, será que estou correndo em um ritmo mais rápido? E assim por diante. Todas essas perguntas constantes tratam somente de mim. E é exaustivo.
Não parece libertador pensarmos menos em nós mesmos — e até não pensarmos em nós mesmos de forma alguma? E ainda fazer isso sem esforço, tão naturalmente quanto respirar, porque é simplesmente nossa natureza? Como se a armadura de Deus que vestimos fosse hidrofóbica, de modo que nada disso — não a lisonja, não a preocupação com como nos comparamos e não as inseguranças alimentadas pela falta de retweets — poderia até mesmo aderir a nós?
Jesus é a resposta: Seus ensinamentos, Seu exemplo e especialmente Seu poder para efetuar essa mudança em nosso coração. Eu sou muito grato por Morôni 7:48:
Portanto, meus amados irmãos, rogai ao Pai, com toda a energia de vosso coração, que sejais cheios desse amor que ele concedeu a todos os que são verdadeiros seguidores de seu Filho, Jesus Cristo; que vos torneis os filhos de Deus; que quando ele aparecer, sejamos como ele, porque o veremos como ele é; que tenhamos esta esperança; que sejamos purificados, como ele é puro. Amém.
Amém, sim!
Quando rogamos com toda a energia de nosso coração e nos esforçamos para ser verdadeiros seguidores de Jesus Cristo, esse puro amor de Cristo é concedido a nós. Ele nos preenche. Isso é muito importante nesta área específica de nossas “lutas interiores”34 (uma frase pertinente do hino “Mais Vontade Dá-me” em inglês) porque a caridade torna impotente essa tentação de nos comparar. Isso porque, quando somos cheios de caridade que “não busca os seus interesses”,35 somos purificados assim como Jesus é puro.
Uma área em que precisamos desse poder purificador está em nossos motivos. O Presidente Benson disse sabiamente sobre o orgulho que “o pecado se manifesta nos motivos pelos quais fazemos as coisas”.36
Eu ouvi o historiador Richard Lyman Bushman dizer isso com tal força. Quando nossos motivos são puros, quando agimos com um coração puro e quando nossa única intenção é abençoar outras pessoas, as comparações orgulhosas são desarmadas. Elas não influenciam nosso pensamento. Quando formos cheios de caridade, seremos como o Salvador. Por que ser puro era tão natural para Ele? Porque, simplesmente, Ele sabia quem era, e Ele nos conhece. Ele verdadeiramente nos conhece, e realmente vê quem somos. Isso muda tudo. Se nos perguntarmos se Jesus se comparava ou não às pessoas ao Seu redor, ou se Ele se sentia consolado no lugar em que Ele estava “na escala do sucesso mundano”37 e em quem estava abaixo Dele, a pergunta imediatamente se torna ridícula. Nós lembramos que este é o Salvador que tem o objetivo de nos tornar — na linguagem de Doutrina e Convênios 88 — “igualados a ele”! 38 Não há inveja, nem competição. Se a tentação de Se comparar se apresentou, Ele “não [lhe] deu atenção”.39 E nós podemos ser como Ele é.
A verdade é que nós vamos sair desta sala e voltar para a panela de pressão. As universidades, o mercado de trabalho, as mídias sociais (ai, mídias sociais!) e até o basquete da Igreja estão todos configurados sistematicamente, quase inerentemente, para forçar comparações sobre nós. Mas isso não significa que temos que dar atenção!
Há alguns anos, depois de havermos lido em uma aula uns trechos do discurso do Presidente Benson sobre o orgulho, inclusive algumas das passagens que lemos hoje sobre a competição e a comparação, um aluno perguntou: “Então como é que eu devo praticar esportes?” Para ser sincero, eu não tive nenhuma resposta fácil naquela ocasião e não tenho nenhuma resposta fácil agora. É difícil, sim. Mas eu digo que não devemos nos afastar desses cadinhos de comparação nos quais nosso caráter é forjado e nos quais podemos realmente praticar o que temos falado aqui.
Nós podemos praticar esportes e sentir a emoção de nossos músculos esticarem e reagirem ao aprendermos novas habilidades e aplicarmos as coisas que praticamos; nossa disputa pode ser apenas com nós mesmos e podemos honestamente comemorar os sucessos de outras pessoas. Nós podemos fazer nossas provas na escola sem nos preocupar com como nossas notas se comparam às de outras pessoas. Em vez disso, nós podemos nos medir contra nós mesmos e sentir a emoção de utilizarmos novo conhecimento para resolver novos problemas. (Tudo bem, eu admito que posso estar me tornando um pouco poético demais sobre a emoção de comemorar novo conhecimento quando temos que fazer exames na escola, mas vocês me entendem.) Nós podemos tocar peças musicais, pintar pinturas, escrever histórias e participar da alegria que essas expressões de talentos e trabalho árduo trarão a outras pessoas.
Pensem em como Jesus usou liberalmente Seus talentos e dons para abençoar outras pessoas, muitas e muitas vezes. Isso não se trata de se esconder debaixo de um alqueire; se trata de não nos preocuparmos com o quanto nossa luz brilha em comparação à pessoa ao nosso lado. Isso se trata de termos motivos puros — de sermos purificados, como Ele é puro. Afinal, Jesus é a própria luz que queremos levantar!40 E como precisamos dessa luz! Como o mundo precisa dessa luz! Por quê? Porque nós chegamos a perceber que todos, de uma forma ou de outra, sentem essas inseguranças. É vital que estendamos a mão para elevar os outros porque todos sentimos o peso disso tentando nos derrubar. Há até uma síndrome para descrever esse peso: a síndrome do impostor.41 É o sentimento persistente de que, não importa o que tenha realizado, mais cedo ou mais tarde alguém descobrirá que você simplesmente não é bom o suficiente, que você não pertence e que suas qualificações realmente são uma farsa. Em um mundo em que esse peso aflige a todos, precisamos de pessoas que respondam ao chamado do Presidente Benson de “vence[r] a inimizade para com nossos irmãos e nossas irmãs, [estimá-los] como a nós próprios e [elevá-los] até onde estamos ou mais alto ainda”.42
Todo esse esforço é repleto de paradoxos, mas, como Terryl L. Givens disse tão bem, como discípulos de Cristo, somos um “povo de paradoxo”!43 Essas próprias tensões podem ser muito produtivas. A melhor maneira de lembrar que nossas disputas são apenas com nós mesmos é pensar menos em nós mesmos. A melhor maneira de parar de nos comparar aos outros é pensar mais nos outros! Quando não encontramos uma resposta fácil, é minha esperança e oração que o Espírito nos ensine sobre essas “coisas pacíficas do reino”,44 mesmo quando são difíceis de expressar.
Não há dúvida de que vocês e eu vamos falhar em muitas coisas que tentamos fazer, e aos olhos daqueles que fazem comparações, todos nós vamos muitas vezes não alcançar a expectativa. Sempre haverá alguém ou algo melhor que nós. Vocês vão receber e-mails, recados de voz ou mensagens de texto — talvez até hoje mesmo — lhes informando que outra pessoa foi contratada para um emprego, que outra pessoa foi escolhida para o time, que alguém não está interessado em um segundo encontro, que outra pessoa foi chamada como presidente da Sociedade de Socorro, e assim por diante. Mas não considerem isso uma medida de seu valor. Decepções magoam, sim, mas também podem ser maravilhosamente, embora dolorosamente, formativas. Todas as coisas realmente podem “[contribuir] juntamente para o bem daqueles que amam a Deus”.45 Mas não permitam que a tentação de se comparar dê a essas decepções um poder destrutivo. Essas comparações são falsidades; elas não medem adequadamente — e não podem medir — o que realmente importa. Quando as decepções vierem, vamos respirar fundo e lembrar o que realmente importa.
Eu lembro que me marcou muito quando ouvi alguém citar o que o Presidente David O. McKay disse sobre imaginar nossa futura entrevista com o Senhor. O Élder Robert D. Hales citou isso em um devocional da BYU em 1988. O foco da entrevista hipotética do Presidente McKay era a qualidade de nossos relacionamentos, com especial atenção às pessoas de nossa família imediata. De forma precisa e deliberada, o Presidente McKay salientou que o Senhor não perguntará sobre nossas profissões, senão nossa integridade. Ele não examinará nosso currículo de chamados na Igreja, senão nosso interesse em ministrar a outras pessoas.46 Essas são as coisas que realmente importam.
C. S. Lewis propôs certa vez: “Talvez pensemos que Deus simplesmente queria obediência a um conjunto de regras, ao passo que Ele realmente quer pessoas com um determinado caráter”.47 Eu opino que isso inclui se tornar uma pessoa que se livra da tendência de se comparar como se fosse água caindo das costas de um pato. Tal como Leí em seu sonho, não damos atenção às vozes desviadoras ou aos que zombam de nós.48
Então, tendo dito tudo isso, em nossos esforços para nos tornarmos pessoas com um determinado caráter, como avaliamos nosso progresso? Bem, não nos comparando! Esse é outro paradoxo. Se não tomarmos cuidado, podemos cair na armadilha que já está nos esperando. Vocês não podem ouvir a si mesmos dizendo: “Eu estou me saindo muito bem com esse negócio de não me comparar. Aposto que me comparo aos outros muito menos do que meu colega de quarto”. E já começou tudo de novo. Uma coisa de que todos precisamos é algo que o Élder Maxwell recomendou em outro discurso clássico e indispensável intitulado “Apesar de Minha Fraqueza”. Aqui está uma de suas recomendações para ajudar a lidar com o que ele chamou de “esses sentimentos de inadequação”:
Podemos fazer um inventário mais honesto de nossos pontos fortes, pois, nesse sentido, a maioria de nós somos contadores desonestos e precisamos de “auditores externos” para confirmarem nossa avaliação.49
Tenho que parar agora para reconhecer minha profunda e pessoal gratidão por tantos “auditores externos” em minha vida, especialmente minha esposa e minha mãe, que personificam tudo o que falamos hoje e que são assim por natureza! Nós podemos ser aqueles auditores externos tão importantes de que outras pessoas precisam.
Eu também tenho certeza de que o Presidente Benson nos diria, tal como fez em 1989:
Devemos ter cuidado, em nossos esforços de nos tornarmos mais semelhantes a Deus, para não perder o ânimo e a esperança. Tornar-se como Cristo é um trabalho para a vida toda, e muito frequentemente exige desenvolvimento e mudanças que são lentas e quase imperceptíveis.
Não devemos perder a esperança (…) O Senhor Se agrada com cada esforço diário, por menor que seja, em que nos esforçamos para ser mais semelhantes a Ele.50
Com esforços diários, por menores que sejam, então, nós praticamos. Nós purificamos nossos motivos. Nós oramos com toda a energia de nosso coração para que o Senhor nos encha do amor e da graça que tornam nossa prática e nossa purificação eficazes — até que tudo isso seja tão natural e sem esforço quanto respirar, como o amor entre pais e filhos e como o amor entre irmãos ou amigos fiéis.
E por fim, nós combatemos a falsidade com a verdade: nós vemos a mentira de Corior e a superamos com uma verdade sobre o reino celestial, o reino no qual “[vemos] como [somos] vistos e [conhecemos] como [somos] conhecidos”.51 Será que podemos orar para ter um vislumbre mais claro disso aqui e agora? Será que podemos orar mais para ver as pessoas dessa maneira? Será que nossas orações e comparações podem se concentrar em como estamos nos tornando “nova[s] criatura[s]” em Cristo,52 e até que ponto Sua graça nos levou e ainda poderá nos levar além de quem temos sido?
Escutem mais uma história. Amo essa história tanto quanto qualquer outra que já apareceu nas revistas da Igreja. Chama-se “O visitante”, de Ken Merrell, da edição de novembro de 2001 de A Liahona.
Quando eu tinha dezoito anos, enquanto me preparava para servir missão, meu bispo me chamou para ser professor da classe dos Raios de Sol (…).
Um dia, convidei Mike para ir à igreja e assistir a uma aula em minha classe. Mike tinha a minha idade, mas tinha deixado totalmente de ir à Igreja desde os doze anos. Continuamos amigos com o passar dos anos (…). De vez em quando, Mike aceitava meus convites para ir a uma atividade. Quando eu o via, era sempre uma surpresa; por isso continuei a convidá-lo.
Naquela época, Mike tinha cabelos compridos e escuros e usava barba (…). Não me lembro de quando fiz o convite para a minha aula da Primária, mas um dia ele apareceu.
“Crianças, este é o meu amigo, Mike”, disse eu, dando início à aula. “Ele está nos visitando hoje.”
Mike sentou-se perto de mim. As crianças sentaram-se em um semicírculo com os olhos fixos em Mike. Estavam mais quietos do que de costume. Já se haviam passado cinco ou seis minutos depois da aula quando um dos meninos levantou-se, caminhou até a frente da sala e parou bem em frente ao meu amigo (…). As outras crianças observaram os dois por alguns minutos (…). Foi então que aconteceu (…).
Com a inocência de uma criança, [o menino] perguntou a Mike: “Você é Jesus?”
A expressão no rosto de Mike era de total surpresa. Pelo rosto das crianças, parecia que todas tinham a mesma pergunta em mente.
Mike olhou para mim, como se perguntasse: “Socorro! O que eu digo agora?”
Adiantei-me e disse: “Não, este não é Jesus. É o irmão Dele”.
Mike olhou para mim, chocado.
Depois, sem hesitação, o menino (…) estendeu os braços e colocou-os em volta do pescoço dele. “Dá para ver”, disse enquanto abraçava Mike.53
O autor encerra a história dizendo que pouco mais de um ano depois, Mike estava servindo como missionário. Eu acho que naquele dia, ele foi lembrado de algo em que não pensava havia muito, muito tempo.
Então, eu digo a vocês e a mim mesmo o seguinte: Vamos todos encontrar um espelho. Vamos nos olhar. Vamos ver como somos vistos. Vamos repetir: “Minha disputa não é com ninguém mais; minha disputa é comigo mesmo. A corrida é contra o pecado, não uns contra os outros”. Depois, devemos rogar com toda a energia de nosso coração para que sejamos cheios do puro amor de Cristo, que é “o autor e aperfeiçoador de [nossa] fé”.54 Devemos nos recusar a deixar que as mentiras “[interrompam nosso] regozijo”55 nas verdades que são mais profundas e convincentes do que a falsidade das comparações. E então precisamos sair pela porta, esquecer-nos de nós mesmos e começar a concentrar-nos nos outros.
Em nome de Jesus Cristo. Amém.
J.B. Haws, professor adjunto de história e doutrina da Igreja, deu esse discurso em 7 de maio de 2019.